terça-feira, fevereiro 20, 2007

Sessão Fotográfica – Crónicas Crónicas


Primeiro encontro, primeira oportunidade.
Estacionei o carro e saímos. Parámos junto à encosta e aproveitei a ocasião para passar minhas mãos pelas suas calças de lycra, mais precisamente três palmos acima da parte detrás dos seus joelhos. Por lá ficaram, enquanto afectuosamente, partilhávamos momentos julgados únicos. Meus olhos fotografavam-na. Quando recorro aos negativos na tentativa de revelá-los, não consigo filtrar, por mais que persista, o desejo lascivo que os danificou. A tendência inata das minhas objectivas, fazia com que as direccionasse sempre para ela num ângulo zenital de 45º. Enquanto regressávamos para o carro, ela caminhava à frente proporcionando-me dois passos de afastamento. A distância ideal e suficiente para que, no papel de um paparazzi, a fotografasse pela última vez.
Beijámo-nos antes de inserir a chave na ignição. Rodo o pulso várias vezes e fico a ouvir o motor de arranque no seu insistente guinchar. Constrangido e cada vez mais nervoso, não dei importância às suas tentativas de conforto e compreensão que apressadamente tentou transmitir.
Beijava-me e a tensão aumentava.
Quando a situação tomou algum controlo, tentou convencer-me a fazer uma pausa. Deu-me a entender que, com o passar do tempo, numa tentativa mais tardia, o motor acabaria por dar sinal de vida...
Volto a irritar-me.
Mesmo não acreditando na estúpida ideia, preparo-me para sair.
Irrito-me cada vez mais.
Ela abriu a porta, fechou a porta, saiu do carro.
Eu abri a porta, fechei a porta e ainda no carro tento a derradeira vez.
O motor pegou. Os meus pés caíram nos pedais com a ajuda da descompressão de todo o corpo, ganhei força para levantar um deles e parti.
No espelho retrovisor via desaparecer… quieta numa pose fotográfica, como que a dizer-me:
- Pára o carro, podes tirar-me uma de corpo inteiro, pára o carro!...
Tarde demais…


Cova